sexta-feira, 13 de junho de 2008

Carta aberta à bancada do PT

Por Maria Luiza Nunes
Presidente do MGDA
Senhoras e Senhores Vereadores,

Estive presente na Câmara de Vereadores, na sessão do dia 12 do corrente, quando deveria ter sido votado o projeto de lei de um vereador de outro partido, que prevê a retirada das carroças das ruas de Porto Alegre.

Foi uma surpresa saber que a bancada do PT fechou consenso em votar contra o referido projeto. Por quê? O Partido dos Trabalhadores não tem, entre suas metas, a busca de uma melhor qualidade de vida, mais digna, aos trabalhadores? Salvo a honrosa excessão do vereador Adeli Sell, que muito bem sabe o que é coerência e ética, os demais abandonaram a discussão, como têm feito durante todos esses anos em que o projeto tramita pelo legislativo.

Peço desculpas por alguma palavra mais dura e impaciente, mas o velho e desbotado discurso do "excluído social" fica sempre só no discurso. Isso é muito pouco. Não interessam mais as bandeiras rasgadas pela própria incapacidade de se fazer respeitar. A história anda, travá-la é viver das lembranças do passado.

Pois bem, concordo, os carroceiros são, sim, excluídos sociais... Não podemos nem chamá-los de cidadãos, pois não têm nenhum direito, garantia social, nada... Mas ao mesmo tempo, também não têm nenhuma obrigação. São seres realmente à "margem". Concordamos nesse ponto. Mas agora a pergunta que não quer calar: Por que o Partido dos Trabalhadores pretende mantê-los nessa situação? A quem convém? Sim, por que ficar perpetuamente no discurso, obstaculizando qualquer tentativa de renovar, de qualificar, é perpetuar a situação.

Discursar para os carroceiros, e para toda a sociedade, dizendo que não existe, nem existirá um planejamento, recursos e projetos para acompanhar a retirada das carroças é uma mentira, e a mentira tem pernas curtas... serve momentaneamente para desviar o foco. E outra pergunta: por quê desviar o foco?

Concordo que a idéia não partiu do PT, o que não é muito confortável, os holofotes estão virados para outro lado, mas negar o concreto é uma demonstração de irresponsável despeito . Mesmo que o projeto tivesse falhas (e tem), o mínimo que se esperaria de legisladores "preocupados com o bem social" seria trabalhar nele para aperfeiçoá-lo. E por favor, não digam que era isso o pretendido com o adiamento da votação... O PL já circula na câmara há quanto tempo? Três, quatro anos? E não deu tempo? Como são atarefados os vereadores da capital. E se não deu tempo em quatro anos, acreditam mesmo que teriam capacidade para montar alguma coisa no prazo de cinco sessões? Por favor, não subestimem tanto a inteligência do coletivo.

É sabido que historicamente o PT nunca se envolveu com a questão dos animais em Porto Alegre, mas não é pelos animais que escrevo nesse momento. Esqueçamos que na ponta da carroça tem um cavalo. Não se preocupem ... não é deles que estamos falando. Preocupem-se com as pessoas. Com essa parcela realmente excluída... O que pretendem? Depois de tanto tempo (de tantos mandatos do PT na prefeitura) ainda sugerem que precisam de mais tempo para pensar, discutir e procurar soluções?

Desculpem, mas é uma hipocrisia insistir no discurso do excluído social, quando se fica só nisso, mediocremente, sem nenhum movimento para modificar a situação. É uma lástima, pois essa era a expectativa de todos que mantiveram o Partido dos Trabalhadores no executivo por tanto tempo... a esperança de que a busca sincera de uma melhor qualidade de vida para todos acontecesse. E nesse "todos", tenham certeza, está incluída uma maioria que também se preocupa com a qualidade de vida dos animais.

Maria Luiza Nunes
Movimento Gaúcho de Defesa Animal
mldn@terra.com.br

Nenhum comentário: