Sessão teve reforço na segurança para evitar conflitos entre os carroceiros e os defensores dos animais
Numa das sessões mais tumultuadas dos últimos anos, a Câmara de Vereadores adiou, ontem, a votação do projeto que prevê o fim da circulação de carroças pelas ruas de Porto Alegre.
Faltou quórum no momento de votar. Apenas 14 dos 36 vereadores ficaram no plenário. A expectativa é de que a proposta volte a debate na segunda-feira.
ACâmara mobilizou 38 seguranças e mais guardas municipais para conter os ânimos entre carroceiros e defensores dos animais, separados por galerias. Mais exaltados, por temer a perda do ganha-pão, os donos de carroças abafavam os discursos dos vereadores favoráveis ao projeto, com apupos e gritos:
- Máfia do lixo! Máfia do lixo!
A sessão precisou ser interrompida diversas vezes. Um dos mais vaiados foi o autor do projeto e presidente da Câmara, Sebastião Melo (PMDB). O parlamentar quase não pôde explicar que a retirada dos veículos de tração animal ocorrerá aos poucos, ao longo de oito anos, mediante compensações que garantam alternativas de renda às famílias dos carroceiros.
Voz discordante na bancada do PT, Adeli Sell chamou de "hipócritas e populistas" os que desejavam adiar a votação de ontem. Além dos insultos, ouviu ameaças vindas da ala dos carroceiros.
Os vereadores contrários justificaram que o projeto "não estava maduro" para ser aprovado. O petista Carlos Comassetto anunciou que integrantes de PT, PC do B, PTB, PDT e PSDB encaminharam requerimento para adiar a votação por cinco sessões. Como foram derrotados, por 17 votos contra 16, retiraram-se do plenário na hora final, provocando o encerramento da sessão.
Carroceiros devem intensificar mobilização
Os representantes de entidades protetoras dos animais gostaram do adiamento. Lourdes Sprenger, do Movimento de Defesa da Vida Animal, ressaltou que não estava apenas a favor dos cavalos puxadores de carroça.
- O projeto é amplo, beneficia a todos, inclusive os carroceiros. Eles não podem continuar sendo carroceiros por gerações - observou.
Ao final da sessão, as defensoras dos animais precisaram ser escoltadas pelos seguranças. Da galeria dos carroceiros, mulheres protestavam, algumas chorando.
- Por que estão encarnando em quem trabalha? Por que as madames não vão cuidar dos seus cachorros? - disse Katia Aparecida Dias, 29 anos.
A intenção dos vereadores é aperfeiçoar o projeto até segunda-feira, quando deverá entrar novamente em votação. O presidente da Associação dos Carroceiros da Grande Porto Alegre (Ascapoa), Teófilo Motta Júnior, avisou que a mobilização será intensificada para impedir a aprovação.
O que prevê o projeto
- Retirada gradativa de todos os carroceiros em até oito anos
- Cadastramento social das famílias que vivem das carroças
- Oferecer alternativa de trabalho para os carroceiros
- Entre 5 mil e 8 mil carroças andam pela Capital, segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Cerca de 30 mil pessoas dependem da coleta de lixo reciclável
Zero Hora
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