A defesa das carroças por meio do argumento de que se trata de um problema social evidencia uma visão simplista e reducionista da questão. Porto Alegre tem hoje mais de 8 mil carroças circulando por sua ruas. Esse fato é notório. O que poucos sabem é que uma boa parte delas é terceirizada. O proprietário não é o carroceiro. Isso sem falar que muitas são conduzidas por crianças, além dos maus tratos sofridos pelos cavalos.
Defender a circulação das carroças desse modo segue a mesma lógica daqueles que defendem a esmola dada às crianças nas sinaleiras. Se a intenção é melhorar a qualidade de vida, poderiam contribuir com as mais de 300 entidades que desenvolvem projetos, reconhecidos internacionalmente, de defesa da criança e do adolescente. No entanto, é muito mais fácil, para aliviar a consciência, dar a esmola na esquina, o que acaba enraizando ainda mais as crianças nas ruas.
O mesmo ocorre com a questão das carroças. Sabemos que os carroceiros são vitimas de um sistema social que os exclui do processo produtivo normal, mas isso não pode fazer com que se ignore o problema. É muito cômodo defender a continuidade das carroças na cidade, mas tenho a convicção de que devemos avançar para gradativamente retirarmos as carroças do centro da cidade, especialmente por meio de projetos de geração de renda que aproveitem os carroceiros em outras atividades.
Infelizmente, os mesmos que defendem da continuidade da carroça não se dão conta de que essa atividade tem despotencializado a entrega do lixo seletivo nos galpões de reciclagem, que funcionam como cooperativas de trabalhadores de baixa renda e que utilizam a coleta do lixo reciclável para a sua sobrevivência. Lembro que, em 2001, por meio da ONG Elos, em parceria com a Agrale, desenvolvemos um projeto inovador para a cidade. Com um custo inicial de R$ 12 mil, criou-se protótipo de um veículo dedicado à coleta de lixo reciclável, batizado de Baby. Lamentavelmente para Porto Alegre, o poder público não assumiu a idéia. Entretanto, os três protótipos criados para o Baby vêm sendo utilizados até hoje no Centro de Educação Ambiental da Vila Pinto, que é um modelo de cooperativa, empregando mais de uma centena de mulheres.
A grande questão não é simplesmente terminar com as carroças sem buscar uma solução para os carroceiros, mas, fechar os olhos para o problema, como se não tivesse solução é uma postura comodista e com forte cunho populista.
José Fortunati
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