sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Fim das carroças em trote de lesma na Capital - Porto Alegre/RS.

Devagar, quase parando Programa que prevê retirada de veículos das ruas está com o freio puxado Denise Waskow denise.waskow@diariogaucho.com.br
Nem trote, nem galope. É num andar vagaroso que o programa de Redução Gradativa de Veículos de Tração Animal (VTAs) e de Veículos de Tração Humana (VTHs), as conhecidas carroças e carrinhos, avança na Capital. O compromisso da prefeitura - previsto na lei - é oferecer cursos de qualificação, para que aqueles que utilizam esses meios de transporte para coletar material reciclável possam se reinserir no mercado de trabalho e tenham outras fontes de sustento. Porém, esse dia está ainda muito distante. Enquanto isso, no Centro e em grandes avenidas de Porto Alegre, a circulação de carroças e carrinhos já sofre restrições. O controle será ampliado a partir de março de 2013. Até 2016, a proibição será em todo o município. "A comunidade se desgostou" O ano que vem também é a data para a conclusão do cadastramento dos trabalhadores, que está em andamento na Zona Leste da Capital. Essa etapa já foi realizada na região das Ilhas, onde o projeto deveria estar mais avançado. A realidade, porém, é um pouco diferente. Segundo o presidente da Cooperativa dos Recicladores, Carroceiros e Carrinheiros da Ilha Grande dos Marinheiros, Vênancio Francisco de Castro, 55 anos, o clima é de descrença entre os moradores com quem ele convive. - A comunidade se desgostou. As coisas estão acontecendo, mas em câmera lenta. Muita gente vendeu a carroça e comprou kombi. Mas ninguém trocou de profissão - afirma. Cansados de esperar A reclamação dele e dos carroceiros com quem o Diário Gaúcho conversou é a mesma: os cursos oferecidos não são suficientes para que eles possam abandonar as carroças e carrinhos e sobreviver com outra atividade. E a construção de uma unidade de triagem no Bairro Humaitá, planejada para absorver a mão de obra que trabalha com material reciclável, ainda não saiu do papel. - A gente já tá cansado de esperar. Empolgam o cidadão e, na hora H, não acontece nada - desabafa Venâncio. Diploma na parede Em janeiro de 2011, o carroceiro Antônio Adroaldo Machado, 58 anos, falou ao Diário Gaúcho da sua expectativa de mudar de vida por meio dos cursos de qualificação. A companheira dele, Sueli Soares, 49 anos, tinha acabado de concluir um curso de artesanato e culinária. Sonhava em participar de uma cooperativa. Quase dois anos depois, a realidade é outra. - O diploma dela tá lá, na parede, mas ela parou de fazer artesanato. Ficou só na promessa - relata Antônio. Promessas para 2013 A coordenadora do programa, Denise Souza Costa, garante que um recurso de R$ 9 milhões, uma parceria entre o BNDES e a prefeitura, será investido na construção de seis unidades de triagem, entre elas a do Bairro Humaitá, que deve sair do papel no início de 2013. Sobre o mercado de trabalho, afirma: - Dos 230 cadastrados nas ilhas, pelo menos 80% foram encaminhados. Isso ocorre via Sine, mas Denise reconhece que não há como saber se os candidatos serão selecionados. "Poderíamos ter acelerado o processo" Autor da chamada Lei das Carroças, de setembro de 2008, o vereador Sebastião Melo (PMDB) avalia que o ritmo de implementação do programa está longe do ideal. - Ainda estamos um pouco atrasados na implantação da lei. Poderíamos ter acelerado mais esse processo - afirma. Ele acredita que o cadastramento dos trabalhadores já deveria estar concluído e que poderia ter sido feito o emplacamento das carroças, para evitar que viessem veículos de outros locais para a Capital. A partir de janeiro, Sebastião assume como vice-prefeito, ao lado de Fortunati (PDT). E, nessa posição, garante se colocar como um parceiro para que os prazos sejam obedecidos. DIÁRIO GAÚCHO